sábado, 20 de outubro de 2012

Serviços de ecossistemas: quanto vale a natureza?

Duas abelhas ocupadas coletando pólen de um girassol em Utrecht, na Holanda. 
As abelhas e outros insetos fornecem todos os anos serviços de polinização 
no valor de 150 bilhões de dólares para os agricultores do mundo inteiro. 
(Foto: Reuters)
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Colocar um preço na natureza protegerá a biodiversidade melhor do que a conservação tradicional, defende Josh Bishop, autor principal do relatório da ONU para negócios, intitulado "A Economia dos Ecossistemas e da Biodiversidade" (TEEB, na sigla em inglês).

A economia dos ecossistemas e da biodiversidade soa muito abstrato. O que significa isso?
Estamos falando sobre aquilo que a natureza dá à economia, pois até o presente momento a economia considerou a natureza como algo líquido e certo, e até determinado ponto a ignorou. A natureza só é parcialmente visível no pensamento econômico, e isso está criando problemas.

Que tipo de problemas nosso sistema econômico está criando?

Um exemplo é a mudança de clima. Nós sempre presumimos que a atmosfera iria absorver o que quer que jogássemos nela, mas descobrimos que há limites.
Descobrimos que os oceanos não são uma fonte inesgotável de peixe; tire os peixes mais rápido do que eles se reproduzem e os estoques pesqueiros entram em declínio. Isso significa perder uma fonte de proteína animal da qual centenas de milhões de pessoas dependem.

Quanto isso está nos custando?

O primeiro relatório TEEB calculava que o desmatamento daqui até 2050 custaria trilhões de dólares em perdas de 'serviços do ecossistema', como carbono, suprimento de água perdido, oportunidades perdidas de turismo ecológico e perdas de produtos madeireiros e não madeireiros.
Dados do Banco Mundial sugerem que, se manejássemos os pesqueiros de modo mais sustentável, eles se valorizariam cerca de 80 bilhões de dólares a mais a cada ano. Além disso, algo em torno de 10% da produção agrícola global depende da polinização feita por abelhas e outros insetos.

Por avaliarem economicamente a biodiversidade, os contabilistas acabarão decidindo quais espécies são mais importantes, quais irão viver ou morrer?

É mais importante preservar certas espécies do que outras? Essa é uma questão polêmica e difícil de responder, pois ainda não sabemos as funções exatas de cada espécie no ecossistema.
Uma abordagem econômica altera a forma como abordamos a questão da conservação e envolve mais atenção aos intercâmbios de negócios e às preferências humanas.
Eu penso que isso é um avanço, pois a abordagem mais romântica, afirmando que todas as espécies foram criadas como iguais e que a natureza é inestimável, não está funcionando.

Nós precisamos achar alternativas que tornem comercialmente rentável conservar e restaurar os ecossistemas, de modo que eles possam competir com a agricultura e com outros usos do solo. Isso é um fato inegável no sistema capitalista em que vivemos.

O que o mundo dos negócios está fazendo a respeito? Uma pesquisa PwC dizia que apenas 6% das 100 maiores empresas do mundo reportaram alguma ação para reduzir os seus impactos sobre a biodiversidade.

Considerando os negócios como um todo, os relatos sobre a biodiversidade estão muito menos avançados do que os relatos sobre mudança climática. Porém, as grandes empresas conseguem ver os impactos potenciais em suas reputações e nos preços do mercado de ações devido a um evento como o derramamento de petróleo no Golfo do México.
Muitas delas adotam ações sérias. Uma mina de níquel em Madagascar absteve-se voluntariamente de explorar jazidas em uma área de expressiva biodiversidade.
As empresas de agronegócio reconhecem que, a menos que disponham de ecossistemas saudáveis, seus modelos de negócio irão à falência. A Unilever, por exemplo, tem um plano que inclui o abastecimento sustentável de todos os seus suprimentos.

Há quem diga que o agronegócio em larga escala está liquidando a biodiversidade, por reduzir a variação genética dos alimentos.

Podemos traçar um paralelo entre a maior intensificação e o tamanho das fazendas com um declínio na biodiversidade. As pequenas propriedades possuem maior diversidade e abrigam mais espécies.
No entanto, a intensificação e a escala foram os fatores que ajudaram a reduzir os preços dos alimentos e aumentaram a produtividade agrícola. Portanto, não deveríamos nos permitir noções romantizadas de que é possível voltarmos à agricultura de subsistência.

O relatório TEEB enfatiza os alimentos orgânicos. O quanto eles são benéficos à biodiversidade?
Estudos sugerem que a agricultura orgânica é mais saudável para insetos, aves e a vida selvagem em geral. Porém, outros estudos mostram que a agricultura orgânica tende a produzir menos por hectare e, portanto requer mais terra.

A agricultura semitecnológica denominada 'conservation grade farming', tal como praticada no Reino Unido, é interessante. Os agricultores reservam 10% da terra em estado natural e, em troca, recebem ágio de 10% sobre os seus produtos, pago pelo mercado. Assim os agricultores não são prejudicados e a natureza fica com 10% a mais.

Como os 'mercados de biodiversidade' atuam para conservar a natureza?

Nos Estados Unidos alguns estados possuem 'bancos de conservação' e 'financiamento de terras alagadas'.
Se uma incorporadora quiser o alvará para um conjunto residencial, precisará comprovar que o impacto líquido sobre o habitat natural é positivo, fornecendo algum tipo de compensação ou troca em favor da biodiversidade.
Isso é possível comprando terras – tais como terras alagadas – e recuperando-as. O financiamento de terras alagadas é um mercado de 2 bilhões de dólares anuais. A Austrália tem um mercado pequeno para vegetação nativa e existem propostas similares na Europa.
O Programa de Neutralização da Biodiversidade nos Negócios (Business and Biodiversity Offset program – BBOP) está desenvolvendo um processo de verificação independente, de modo que as empresas possam fazer isso voluntariamente e com credibilidade. Assim como os mercados de carbono, haverá esquemas regulamentados e voluntários.

Muita gente é cética a respeito de arranjos voluntários. O que os governos e legisladores podem fazer para forçar as empresas na direção certa?

O ponto de partida é reformular os subsídios governamentais que estão prejudicando o meio ambiente, tais como os subsídios para pesqueiros, agricultura e combustíveis fósseis.
Depois, existem incentivos positivos, como os pagamentos por serviços de ecossistemas (conhecidos pela sigla em inglês PES). A China possui o maior sistema de PES do mundo: um 'programa de conversão de terras em declive' de 40 bilhões de dólares.
O governo pagou aos agricultores para recuperar a vegetação nas terras deles e construir quebra-ventos a fim de reduzir a erosão do solo pela água e pelo vento.


Onde há outros exemplos positivos da conservação melhorando a vida econômica?
Alguns pesqueiros dos Estados Unidos conseguiram se recuperar depois de instituir severas regulamentações, segundo as quais quando os estoques de peixe diminuíam, as pessoas tinham de parar de pescar. Nas Filipinas foi criada uma reserva em alto-mar que levou à recuperação dos estoques pesqueiros.
No sul da África a partilha eficaz dos dividendos do turismo levou a um aumento nos números da vida selvagem, e as comunidades começam a ver as suas vantagens. É disso que trata o projeto de Redução das emissões do desmatamento e da degradação florestal (Reduced Emissions from Deforestation and Degradation – REDD).
O truque é dar às pessoas algum interesse econômico na produtividade e sustentabilidade do recurso.

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Fonte: Allianz - http://sustentabilidade.allianz.com.br

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