sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Grande Barreira de Corais à beira do colapso: quem culpar?


Estrelas-do-mar “famintas”, tempestades e acidificação dos oceanos reduziram pela metade a maior cobertura de corais do mundo, na Austrália. Mas há ainda um 4º fator – a negligência




São Paulo – A maior barreira de corais do planeta vive uma crise ambiental sem precedentes. Relatório recente mostra que a Grande Barreira de Corais Australiana já perdeu mais da metade de sua cobertura (50,7%) nos últimos 27 anos. E, se nada for feito na próxima década, podem restar apenas 5% da formação no ano de 2022, diz o documento do Instituto Australiano de Ciência Marinha, que sintetizou mais de 2 mil trabalhos científicos sobre o assunto. 



Estendendo-se por mais de 2.000 quilômetros ao longo da costa do estado de Queensland, a Grande Barreira de Corais é composta por quase três mil pequenos recifes e mais de 900 ilhas no oceano Pacífico. Atualmente, é lar de 400 espécies de corais, 1.500 espécies de peixes, 4.000 espécies de moluscos e animais em risco de extinção, como o peixe-boi e a tartaruga verde.
Como é possível que esse paraíso natural, declarado Patrimônio Mundial da Humanidade em 1981 e que gera cerca de 5 bilhões de dólares em turismo para a economia australiana, esteja desaparecendo? De acordo com a pesquisa, publicada na revista americana Proceedings of the National Academy of Sciences, três fatores principais explicam a redução alarmante.


Mudanças climáticas respondem por 48% da degradação da barreira. Desde 1985, 34 ciclones atingiram a  região carregando consigo toneladas de sedimento e resíduos tóxicos de atividades industriais e agrícolas da terra para o mar.

O segundo fator é a explosão de uma população de estrelas-do-mar da espécie Acanthaster púrpura, também conhecida como "coroa de espinhos", que literalmente devora os corais. Já a terceira pressão ambiental vem da acidificação dos oceanos, fenômeno desencadeado pelo aumento da concentração de CO2 na atmosfera. Como consequência, os corais ficam esbranquiçados e quebradiços e acabam morrendo.

Mas há ainda um quarto fator que contribui para o colapso da Grande Barreira: a negligência das autoridades públicas. Depois do alerta dos cientistas, o governo australiano admitiu que fechou os olhos às ameaças aos corais. “Todos levamos a culpa por não termos feito o suficiente e agora precisamos nos concentrar em garantir que podemos consertar isso”, disse o ministro do Meio Ambiente, Tony Burke, ontem à noite na televisão australiana ABC.

O problema do surto de populações de estrelas do mar que se alimentam dos corais foi registrado pela primeira vez em 1962 e, desde então, repete-se a cada 15 anos. Para controlar a ação predatória, mergulhadores injetam uma proteína nas estrelas do mar para matá-las, uma a uma. Mas é preciso avançar nesse trabalho.

“Não dá para evitar as tormentas, mas podemos deter as estrelas-do-mar. Se conseguirmos isso, daremos uma maior oportunidade à Barreira para que se adapte ao aumento da temperatura dos mares e à acidificação dos oceanos", afirma a pesquisa do Instituto Australiano de Ciência Marinha.


 



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