Aumento de Energia
Boas práticas construtivas, tecnologia e os esforços de homens e mulheres
dispostos a entrar agachados nos sótãos abafados e cheios de aranhas,
afim de tornar suas casas mais eficientes, permitiram que avançássemos muito.
(Jim Gunshinan)
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Sou editor da revista Home Energy, que se ocupa da reparação e
construção de casas eficientes em termos energéticos, saudáveis e a
preços alcançáveis para uma audiência de especialistas em eficiência
energética, auditores de energia e contratistas especialistas em
eficiência energética, e percebi que estes contratistas são como os
médicos quando fazem visitas domiciliárias: entram em casa, diagnosticam
os problemas —como contas elevadas por conceito de energia, ar
domiciliário pouco saudável, fungos e simples falta de conforto—,
oferecendo soluções. Na maioria das casas isso implica selar fugas de
calor na construção e nos sistemas de ductos, aumentar o isolamento
térmico em sótãos e muralhas, assegurando que a casa tenha um
fornecimento controlado de ar fresco.
Contrário ao que alguns seguidores do movimento de construção verde
creem, a casa eficiente e saudável geralmente não precisa de janelas
novas, sistemas de aquecimento geotérmico que são menos atraentes que
painéis solares, telas tácteis e sistemas de monitoramento de casas.
Numa conferência sobre construção verde falei com um construtor sobre
um de seus clientes, um solteiro que vive numa casa de 5.000 pés
quadrados em Oakland Hills, que instalara quase 1 milhão de dólares em
painéis solares no teto de sua casa. Queria uma “casa de energia zero”,
isto é, uma casa que produz a mesma quantidade de energia que a que
consome no decorrer de um ano. Vejo essa casa aparecer na paisagem toda
vez que vou para o leste na Rodovia 24 bem antes do túnel Caldecott, que
separa meu escritório em Berkeley das cidades de Orinda, Lafayette e
Walnut Creek, onde vivo numa pequena casa que consome menos energia que a
média das casas dos Estados Unidos. No entanto, comparando com os
padrões mundiais, isto não é para se gabar. Considere isto: com 1 milhão
de dólares poderíamos ter equipado 500 casas nas áreas mais pobres e
com maiores índices de criminalidade de West Oakland. Em longo prazo, o
investimento em eficiência energética teria sido pago somente com o
lucro.
Para os pobres e para as classes trabalhadoras, a moradia é um desafio
econômico e de saúde. Um estudo sobre moradias de baixa renda em Boston
concluiu que fazer uma casa ou um apartamento energeticamente mais
eficiente, com melhor qualidade de ar interior, aumenta a saúde e o
bem-estar de seus ocupantes. Depois que as casas foram reacondicionadas,
os ocupantes foram capacitados com informação básica sobre eficiência
energética e hábitos saudáveis —manter produtos químicos tóxicos fora
das áreas de estar, usar só métodos de controle de pragas não tóxicos,
usar ventiladores no banheiro e na cozinha—. As crianças destas casas
tiveram menos necessidade de assistência médica por ataques de asma e
tiveram menos absentismo escolar por doença que antes do
reacondicionamento de suas casas, e comparando com meninos que viviam em
casas menos saudáveis (ver os relatórios em “Battling Childhood Asthma”
[“Lutando contra a asma infantil”], de Kiimberly Vermeer, em Home
Energy, 2006). Uma casa energeticamente eficiente é também mais saudável
e vice-versa. Não se deve sacrificar uma coisa pela outra.
O Programa de Assistência de Climatização do Departamento de Energia
recebeu mais de US$ 6 bilhões, através de uma lei de 2009 (American
Recovery and Reinvestment Act), conhecida como lei de estímulo do
Presidente Obama. Com esses fundos, as agências de climatização com e
sem fins de lucro do país transformaram mais de 600 mil casas de baixa
renda em casas mais saudáveis e com manutenção mais barata. Muito
dinheiro, mas bem investido.
Não só os pobres precisam de ajuda. Recentemente recebemos uma carta de
um casal da zona rural de Ohio, os dois eram professores e tinham
crianças pequenas em casa. Eles vivem num velho sítio, cuja casa
pertencia à família há mais de 100 anos. Mas seus salários acumulados
não davam para reformar a casa, pois deveriam renovar o revestimento, o
isolamento das paredes e do sótão e trocar o aquecedor. Se não
conseguissem ajuda, poderiam perder a casa. Neste momento também não
podem enfrentar o gasto de viver numa casa com um alto consumo de
energia; também não podem permitir que seus filhos, que têm tendência a
sofrer ataques de asma, vivam numa casa cheia de correntes de ar que se
enche de umidade no inverno, o que pode produzir fungos. Conectamos essa
família com alguns programas, em Ohio, que trabalham nas áreas rurais
da região, oferecendo financiamento para o reacondicionamento de casas
de famílias de renda baixa e média.
Nos EUA há cerca de 50 milhões de casas, além de vários milhões de
apartamentos que abrigam famílias pobres, setores de baixa renda, classe
média e de alta renda; a maior parte das casas precisa de algum tipo de
reacondicionamento energético.
TUDO ESTÁ NO COMPORTAMENTO
Os especialistas em construção perceberam que tornar uma casa mais
eficiente não é o mesmo que poupar energia. Comparadas com as casas dos
anos 50, as casas atuais nos Estados Unidos são duas vezes maiores,
abrigam a metade de pessoas e usam duas vezes mais energia. Nos últimos
50 anos fizemos grandes progressos em eficiência para aquecimento e
resfriamento, além da eficiência dos aparelhos eletrodomésticos, mas
isto foi mais que compensado por nossa sede de casas maiores e maior
quantidade de aparelhos eletrônicos —todos esses aparelhos que temos em
nossas casas e que usam energia inclusive quando pensamos que estão
apagados—. Entre estes, os carregadores de celular, os DVDS, sistemas
home theater e outros aparelhos eletrônicos denominados “vampiros”.
Estas criaturas noturnas consomem até 10% da energia utilizadas pelas
casas. De maneira que a tecnologia às vezes ajuda e às vezes entorpecem
nossa habilidade para usar os recursos naturais de forma apropriada.
Agora há encontros nacionais regulares como o Behavior Energy and
Climate Change Conference (Conferência sobre Mudança Climática e
Comportamento Energético), que reúne especialistas em tecnologia,
sociologia, economia e psicologia para debater como podemos motivar as
pessoas a economizarem energia.
Em 2009, ouvi um palestrante falar numa conferência sobre um estudo que
analisava o comportamento das pessoas em relação às coisas que compram.
Por exemplo, descreveu um homem de meia idade que entrevistou. Falaram
sobre automóveis. O entrevistado tivera um velho Honda Accord quando
estava no colegial e na universidade, carro que adorava porque lhe dava
uma sensação de independência e segurança em si mesmo. Quando se casou e
começou a trabalhar num banco seus superiores lhe disseram que deveria
comprar um automóvel à altura de seu cargo. Comprou uma BMW. Depois
vieram os filhos, ele e sua mulher se sentiram inseguros nas estradas,
no meio de enormes veículos utilitários e caminhonetes cabine dupla, de
maneira que compraram um utilitário. Mais tarde quando as crianças
cresceram e se tornaram independentes, eles compraram um híbrido-não —um
Prius, mas um Honda Accord híbrido de 6 cilindros, de maior rendimento
que um Accord comum—. Isto lhes permitia sentir que estavam fazendo uma
contribuição ao meio ambiente sem sacrificar a sensação de poder e
segurança no caminho. Quando lhe perguntou qual de todos os automóveis
lhe agradava mais, disse que o velho Honda Accord da sua adolescência.
Não estava completamente consciente disso nesse momento, mas dirigir o
velho carro combinava mais com a etapa que estava vivendo, a do
adolescente independente e seguro de si mesmo. Depois disso, viveu a
história de outros —do seu chefe, da indústria bancária e a de uma
sociedade insegura depois dos ataques terroristas que afetaram nosso
país em 2001—.
UM CÂMBIO DE RELATO
Nossa tradição religiosa provê uma resposta aos nossos desafios
energéticos. A história primordial de nossa cultural consumista nos
indica que o sucesso é ter um automóvel grande e caro e uma casa cheia
de artefatos eletrônicos, aquecedores para as toalhas do banho e tetos
complicados difíceis de serem vedados. A religião dominante diz que
somos indivíduos rudes e que o sucesso monetário é uma bênção de Deus.
Com esse relato na cabeça dos donos de casas em todas as partes, não é
de se estranhar que tenhamos problemas de energia de direitos humanos de
fundo”. O direito à vida, à liberdade, à felicidade são direitos
humanos “formais”. O direito à sindicalização e à negociação coletiva e o
direito à alimentação, à moradia, ao vestuário, a educação, a saúde e
um salário mínimo são a versão de fundo. Isso é o que séculos de
ensinamento católico social promoveram.
Encontramos a mesma sabedoria em outras tradições e entre os
cientistas. John Muir, grande ambientalista e um dos pais dos parques
nacionais, disse: “Quando tratamos de tomar uma coisa por si só,
encontramos que está unida a todas as outras coisas no Universo”. A boa
ciência nos mostra que tudo está conectado. A boa religião também.
Quando nós todos reconhecermos que uma sociedade onde todos têm um lugar
decente para viver é uma sociedade saudável e próspera, e quando
olharmos a terra como um valioso sócio de vida com a qual estamos
intimamente unidos, então, seremos capazes de dar passos maiores para
uma forma de vida sustentável no planeta.
Boas práticas construtivas, tecnologia e esforços de homens e mulheres
dispostos a entrarem nos seus sótãos abafados e cheios de aranhas
agachados,a fim de tornar suas casas mais eficientes, fazem-nos avançar
enormemente. No entanto, todos nós, consumidores de energia, devemos
mudar de atitude para completar a viagem. Temos que aceitar uma história
diferente, que seja mais fiel a nossa natureza humana. Que ela valorize
a independência, mas também a cooperação; uma sensação com a qual
possamos criar uma melhor vida e consciência de que vivemos num mundo
limitado, onde as coisas que usamos diariamente são um presente precioso
que temos que preservar para o uso das futuras gerações. Em outras
palavras, temos que aprender a viver com a esperança de que podemos
construir um melhor país.
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Jim Gunshinan. Editor de Home Energy, uma revista com base em Berkeley, California. Publicado na revista America, www.americamagazine.org
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Fonte: MiradaGlobal.com
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